Se ela fosse uma casa, essa casa seria espaçosa, com poucos cômodos, porém. Se ela fosse uma casa, o aroma dessa casa seria de comida feita na hora, num fogão à lenha que tem seu fogo sempre aceso. Se ela fosse uma casa, todo canto dessa casa teria uma cadeira, um balanço, uma cama, uma rede, convidando à preguiça, à languidez e às safadezas de um momento perfeito. Se ela fosse uma casa, essa casa seria sólida, de materiais brutos e nada perecíveis, tudo muito intenso ao toque, ao encostar de pele, de corpo, de alma... Se ela fosse uma casa ela seria o esconderijo acima de qualquer suspeita por sua discrição elegante e misteriosa. Se ela fosse uma casa, essa casa estaria fora de moda, ou acima dela, misturando objetos às lembranças e suspiros saudosos a cada olhar. Se ela fosse uma casa, não haveria um canto sequer mal cuidado, ou esquecido, seria como um pequeno grande mundo zelado por um deus caprichoso e amante do que é bom nessa vida. Se ela fosse uma casa, essa casa seria um pouco como o mar, as férias perfeitas, o sonho bom, o melhor lugar pra ir, pra estar, pra ficar. Se ela fosse essa casa, sem a menor sombra de dúvida, esse seria o lugar onde eu gostaria de morar. Pra sempre.