Eu ando pelo mundo consumindo emoções . Sou como um morto vivificado pela bondosa ilusão de finais felizes construídos milindrosamente por mim mesma. Sou um animal de olfato apurado, emocionívoro - feroz em quanto à minha fome, veloz e suave quanto à minha presa, sagaz e prudente quanto à perseguí-la.
Sou forasteiro onde quer que eu esteja, sou um vaso de flor numa praça em Kabul. Sou cantiga de roda no final da tarde. Eu sou pedra polida que corta o vento e salta sobre o mar. Sou riso, sou cheiro, sou tato e instinto. Um príncipe sem nome viajante entre galáxias. Onda que quebra contra as rochas, sou quem transforma tudo em cinzas. Sou metade força e metade fraqueza: metade de mim é feita de falhas, a outra metade é de perfeição.
Eu sou a folha seca que despega do galho, que cai e se vai. Eu sou o amor do meu amor, sou o sonho esquecido, empoeirado, que volta a acender os ânimos, a exercitar o querer. Eu sou o trabalho árduo e a sua boa recompensa, sou o gigante bobo da aldeia dos minúsculos duendes. Sou torrente de água que chove do céu, eu sou você quando sentes sede, posso ser água quando te sacias. Sou o Brasil de 1499, sou índio e sou homem branco; sou samba, sou bossa, sou choro e boêmia. Sou o jornal pela manhã, torrada e café.
Sou tentativa, sou predicado, o clamor que não cessa, sou voz que não cala, indigente, fumaça suspensa no ar. Sou tua vontade de justiça, teu desejo de igualdade, tua indignação com a ignorância. Sou bicho humano, não como escolhi, mas o que decidi corajosamente fortalecer.
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Posso ser tudo isso, e aquilo e algo mais, ou algo menos.
Mas pra ela, senhores, eu sou o Amor.
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¿Bailaches?
- Bailei, si señor.
- Dime con quen bailache.
- Bailei co meu amor!
- Bailei, si señor.
- Dime con quen bailache.
- Bailei co meu amor!
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